O tratamento com células CAR-T (células T com receptor de antígeno quimérico) é uma forma de terapia celular que utiliza as próprias células do sistema imunológico do paciente para combater o câncer. Esse tipo de tratamento é mais comumente utilizado no caso de tumores hematológicos, como leucemia e linfoma.
O tratamento com células CAR-T foi aprovado há alguns anos pela FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos) para uso em certos tipos de leucemias e linfomas. No Brasil, o uso da técnica foi aprovado recentemente, mas apesar disso, já há estudos avançados que vem mostrando resultados animadores.
Em território brasileiro, o tratamento com células CAR-T está disponível em algumas instituições de saúde e centros de tratamento especializados. O procedimento ainda não é amplamente difundido no país devido aos custos elevados associados a essa imunoterapia, à complexidade técnica envolvida e à necessidade de infraestrutura especializada para manipulação das células.
Como funciona o tratamento em câncer hematológico
O tratamento com células CAR-T (células T com receptor de antígeno quimérico) é uma forma de terapia celular que utiliza as próprias células do sistema imunológico do paciente para combater o câncer. Esse tipo de tratamento é mais comumente utilizado no tratamento de tumores hematológicos, como leucemia e linfoma.
O processo de tratamento com células CAR-T envolve várias etapas. Primeiro, as células T do paciente são coletadas e isoladas do sangue. Essas células T são então geneticamente modificadas em laboratório para expressar um receptor de antígeno quimérico, que é projetado para identificar e atacar as células cancerosas. Uma vez que as células T foram modificadas, são cultivadas em grande número em laboratório.
Depois que as células CAR-T foram expandidas, são então infundidas de volta no paciente. Uma vez dentro do corpo, as células CAR-T reconhecem e atacam as células cancerosas, destruindo-as e eliminando o tumor.
O tratamento com células CAR-T pode ter efeitos colaterais significativos, como síndrome de liberação de citocinas (uma resposta imunológica exagerada que pode causar febre, náusea e outros sintomas), além de potenciais complicações graves. Por esse motivo, o tratamento com células CAR-T é frequentemente reservado para pacientes com tumores hematológicos que não respondem a outras formas de tratamento.
Alguns exemplos de sucesso
A terapia com células T modificadas por receptor de antígeno quimérico (CAR) revolucionou o tratamento de linfomas de células B recidivantes ou refratários. Segundo estudos publicados recentemente, com base em taxas de resposta sem precedentes e na durabilidade da resposta em pacientes com linfoma de células B de alto risco, a terapia com células T CAR anti-CD19 foi rapidamente aprovada pela agência americana FDA para uma variedade de subtipos de linfoma.
Por exemplo, a terapia com células CAR-T anti-CD19 é agora considerada padrão de tratamento para pacientes com Linfoma não-Hodgkin Agressivo (LNH) recidivante ou refratário (R/R) após duas ou mais linhas de terapia. Recentemente, três produtos de células CAR anti-CD19 de segunda geração também foram aprovados pela FDA para linfoma agressivo de células B R/R e a aprovação da FDA também foi obtida para linfoma de células do manto e linfoma folicular. Isto garantiu amplo acesso à terapia com células CAR-T para pacientes com LNH e novos ensaios no mundo real ajudaram a confirmar a viabilidade da terapia com células CAR-T para uma ampla população de pacientes.
Esses resultados demonstram a eficácia do tratamento e mostram, ainda, que em outros países esse modelo de tratamento tem se tornado mais comum.
Como está a evolução do tratamento no Brasil
A terapia com células CAR-T é considerada um tratamento inovador que combate cânceres de sangue e que poderá, em breve, ser ampliado para outros tipos de câncer.
Nos últimos dois anos, o tratamento está ganhando cada vez mais espaço no Brasil, graças ao investimento do setor público e privado. O Hospital Abert Einstein, foi o primeiro a aprovar estudo clínico no Brasil e ainda conduz estudos na área. Vale destacar entre as iniciativas já em desenvolvimento, o trabalho de cientistas do Instituto Butantan, do Hemocentro de Ribeirão Preto e da Universidade de São Paulo (USP), que inauguraram em 2023 duas unidades de produção: Nutera-São Paulo e Nutera-Ribeirão Preto. O objetivo desse projeto é ampliar o acesso ao tratamento e disponibilizá-lo no Sistema Único de Saúde (SUS).
Produtos já liberados pela Anvisa
O primeiro registro sanitário aprovado no Brasil para produto de terapia gênica baseada em células T de receptores de antígenos quiméricos (CAR), foi o Kymriah® (tisagenlecleucel), da empresa Novartis Biociências S.A. O produto é indicado para o tratamento de pacientes pediátricos e adultos jovens (até 25 anos de idade) com Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) de células B, refratária ou a partir da segunda recidiva. O tratamento está igualmente indicado para pacientes adultos com Linfoma Difuso de Grandes Células B (LDGCB) recidivado ou refratário, após duas ou mais linhas de terapia sistêmica.
O Carvykti® (ciltacabtageno autoleucel), da empresa Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda é outro produto liberado pela Anvisa. O tratamento é destinado para pacientes com mieloma múltiplo que não responderam ao tratamento com as três classes de medicamentos indicados para este tipo de câncer (agentes imunomoduladores, inibidores de proteassoma e anticorpos monoclonais) e cuja doença voltou e já não responde aos tratamentos disponíveis.
O TECARTUS® (brexucabtageno autoleucel), do laboratório Kite, uma empresa do grupo Gilead Sciences Farmacêutica do Brasil, também foi aprovado. Ele é indicado para o tratamento de adultos com linfoma de células do manto (LCM), quando os sintomas ou a doença retornam (recidiva) ou quando não respondem (refratário), após dois ou mais tratamentos anteriores. O LCM é um subtipo agressivo de linfoma não Hodgkin que se desenvolve a partir de linfócitos B anormais. O TECARTUS® é o primeiro produto de terapia avançada indicado para o tratamento desse tipo de câncer raro no país.
Por fim, o Yescarta® (axicabtagene ciloleucel), do laboratório Kite, uma empresa do grupo Gilead Sciences Farmacêutica do Brasil, também aprovado pela Anvisa, é destinado ao tratamento de pacientes adultos com Linfoma de Grandes Células B (LDGCB), recidivado ou refratário, após duas ou mais linhas de terapia sistêmica.
Sobre a Celluris
A Celluris, empresa especializada em terapia celular, foi a primeira companhia a desenvolver a tecnologia CAR-T no Brasil. Ainda hoje, é a que mais se dedica a esse campo de estudo, trabalhando para oferecer terapias personalizadas aos pacientes. Para conhecer ou saber mais sobre essa terapia, acesse o site.
Apesar de aprovado e com diversos estudos em andamento, o acesso ao tratamento com células CAR-T no Brasil ainda é limitado e depende de diversos fatores, como a disponibilidade do tratamento em instituições de saúde específicas, a elegibilidade do paciente e a cobertura ou financiamento do tratamento por planos de saúde ou pelo sistema público de saúde.
Referências bibliográficas
Manasi P Jogalekar, Ramya Lakshmi Rajendran, Fátima Khan, Crismita Dmello, Prakash Gangadaran, Byeong-Cheol Ahn. CAR T-Cell-Based gene therapy for cancers: new perspectives, challenges, and clinical developments. Publicado em 22 de julho de 2022. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35936003/ . Acessado em 13 de março de 2024.
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