A história da terapia CAR-T abrange mais de seis décadas de pesquisa. As primeiras células T contendo um receptor quimérico de antígeno (CAR, na sigla em inglês) foram desenvolvidas em Israel, em 1987. Em 2009, cientistas americanos conseguiram validar a eficácia dessa terapia no tratamento da leucemia. A tecnologia recebeu a aprovação da Food and Drug Administration (FDA), órgão governamental americano que faz o controle de alimentos, medicamentos etc., em 2017; e atualmente está disponível em vários países, incluindo o Brasil.
Uma vantagem da terapia CAR-T é a personalização, já que utiliza as próprias células do paciente. Outro ponto favorável é que a terapia com CAR-T é direcionada especificamente para as células cancerígenas, preservando as células saudáveis.
Porém, como qualquer tratamento mais agressivo, há pontos de atenção. Por exemplo, a segurança é considerada crucial no tratamento com células CAR-T, pois essa abordagem envolve a manipulação genética das células do sistema imunológico do paciente. Há também efeitos colaterais, por exemplo, a Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC).
Segurança na modificação genética das células T
A manipulação genética das células no tratamento com CAR-T (Células T com Receptores de Antígenos Quiméricos) envolve a modificação genética das células T do próprio paciente para expressar um receptor de antígeno quimérico (CAR) específico para as células cancerígenas.
Tudo começa com coleta de células T do paciente, que são retiradas do indivíduo através de um processo chamado leucaférese, semelhante à doação de sangue. As células T são isoladas do sangue coletado e, em seguida, são ativadas em laboratório. Isso é feito expondo as células T a proteínas específicas, como anticorpos, que estimulam sua ativação.
Após a coleta, as células T passam por uma modificação genética. Isso é geralmente realizado por meio da introdução de um vetor viral que carrega o gene do CAR. Os vetores virais mais comuns usados são os retrovírus ou lentivírus. Esses vírus são geneticamente modificados para carregar o material genético do CAR, mas são inofensivos ao organismo. Após a modificação genética, as células T passam a expressar o CAR na superfície.
Essas células CAR-T modificadas são cultivadas em grande quantidade em laboratório. Enquanto isso, o paciente é preparado para receber a infusão de suas próprias células CAR-T.
As células CAR-T são então infundidas de volta no paciente por meio de uma transfusão intravenosa. Uma vez introduzidas elas encontram células cancerígenas que expressam o antígeno específico reconhecido pelo CAR, dessa forma, elas são ativadas e começam a atacar as células cancerígenas.
Toda a complexidade do processo exige que o tratamento seja executado por profissionais e clínicas altamente especializados e que tenham domínio da técnica.
Células CAR-T e toxicidade
Após a infusão das células T, começa uma nova fase. Os pacientes são monitorados de perto para detectar possíveis efeitos colaterais, como a Síndrome de Liberação de Citocinas e toxicidades neurológicas.
A Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC), também conhecida como Síndrome de Liberação de Citocinas Induzida por Terapia Celular (SLC-T), é uma resposta inflamatória sistêmica que pode ocorrer como efeito colateral no tratamento com terapia com células CAR-T (Células T com Receptores de Antígenos Quiméricos).
Ou seja, a ativação robusta das células T durante o tratamento com CAR-T pode desencadear uma resposta imunológica exagerada, levando à liberação massiva de citocinas no organismo. As citocinas são proteínas envolvidas na comunicação entre as células do sistema imunológico e desempenham um papel importante na regulação da resposta inflamatória.
Quando há uma liberação excessiva de citocinas, ocorre uma cascata de eventos que pode levar a sintomas sistêmicos graves, como febre, hipotensão, dificuldades respiratórias, e em casos mais extremos, à síndrome de choque. Essa resposta inflamatória intensa é conhecida como Síndrome de Liberação de Citocinas.
Para gerenciar a SLC, associada à terapia com células CAR-T, os pacientes são monitorados de perto durante e após o tratamento. Além disso, medidas de suporte, como administração de medicamentos anti-inflamatórios e imunossupressores, podem ser tomadas para controlar os sintomas. O manejo eficaz da SLC é crucial para garantir a segurança e o sucesso do tratamento com células CAR-T.
Outros efeitos colaterais relatados
Além da Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC), a terapia com células CAR-T pode estar associada a outros efeitos colaterais, incluindo toxicidade neurológica. Os efeitos colaterais neurológicos são variáveis em gravidade e podem incluir: confusão, sonolência, desorientação ou mesmo perda de consciência. Essa condição pode ser transitória e geralmente está associada à gravidade da resposta inflamatória sistêmica.
Entre os efeitos colaterais os pacientes também podem registrar um tipo de disfunção neurológica, incluindo alterações de comportamento, convulsões e distúrbios visuais. Geralmente, é reversível com o tratamento adequado.
É importante destacar que esses efeitos colaterais podem variar entre os pacientes e nem todos os indivíduos submetidos à terapia com células CAR-T experimentarão essas complicações.
Em quais casos o tratamento tem mostrado eficácia?
Até agora, a terapia CAR-T tem demonstrado eficácia notável em casos de leucemia linfoblástica aguda (LLA), linfoma difuso de grandes células B (DLBCL), mieloma múltiplo e outros tumores hematológicos. Pacientes que não respondem a tratamentos convencionais muitas vezes veem resultados positivos com a terapia CAR-T.
Segurança do paciente
Embora a persistência das células CAR-T no organismo seja desejável para manter a eficácia em longo prazo, isso também pode contribuir para efeitos colaterais prolongados. É importante entender e gerenciar a persistência das células de forma segura.
A segurança do paciente está no monitoramento em longo prazo, especialmente em relação a potenciais efeitos colaterais tardios e a ocorrência de recidivas. A comunicação contínua entre o paciente e a equipe médica é fundamental.
É importante que os pacientes que estejam considerando a terapia CAR-T como uma opção de tratamento discutam detalhadamente os riscos e benefícios com seus oncologistas e que sejam monitorados de perto durante e após o tratamento para garantir uma abordagem segura e eficaz. A segurança é uma prioridade constante na evolução dessa terapia inovadora.
Pioneirismo na tecnologia CAR-T
Especializada em terapia celular, a Celluris foi a primeira empresa a desenvolver a tecnologia CAR-T no Brasil. Ainda hoje, é a que mais se dedica a este campo de estudo, trabalhando para oferecer terapias personalizadas aos pacientes. Para conhecer ou saber mais sobre essa terapia, acesse o site.
Referências bibliográficas:
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