O mieloma múltiplo é um tipo de câncer que afeta os plasmócitos, células da medula óssea responsáveis pela produção de anticorpos que combatem infecções. No mieloma múltiplo, esses plasmócitos tornam-se anormais e se multiplicam rapidamente, comprometendo a produção de outras células sanguíneas. Como resultado, os pacientes podem desenvolver anemia e ter maior risco de infecções. Além disso, os plasmócitos malignos produzem uma proteína anormal chamada proteína monoclonal, que se acumula no sangue e na urina. As células doentes também podem danificar os ossos, causando dores e fraturas espontâneas.
Pacientes portadores de mieloma múltiplo refratário ou em que a doença está em recidiva, quando o mieloma volta a aparecer depois de uma remissão completa, terão nova chance com os estudos avançados com o uso das células CAR-T.
Após o sucesso do uso de células CAR-T em tratamentos de cânceres hematológicos, pesquisas recentes mostram resultados promissores com o uso das células T do receptor de antígeno quimérico CAR direcionado ao antígeno de maturação de células B em pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário. Recentemente, o FDA (Food and Drug Administration), órgão americano, aprovou duas opções terapêuticas com o uso de células CAR-T para o tratamento desse tipo de câncer.
Avanços na terapia CAR-T: uma nova esperança para pacientes com mieloma múltiplo
Nos últimos anos, a terapia com células T do receptor de antígeno quimérico (CAR) tem se destacado como uma abordagem revolucionária no tratamento de cânceres hematológicos. Recentemente, essa terapia tem mostrado respostas iniciais notáveis em pacientes com mieloma múltiplo (MM) recidivado ou refratário, levando a uma aprovação para uso clínico pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos. No entanto, apesar do sucesso inicial, as remissões duradouras ainda são raras, e os pesquisadores estão empenhados em superar os desafios associados à resistência à terapia.
O desafio da resistência na terapia CAR-T
O principal obstáculo para a eficácia prolongada das células CAR-T no tratamento do Mieloma Múltiplo é a perda dessas células ao longo dos dias pós-infusão e a inibição causada pelo microambiente tumoral (TME). O Mieloma Múltiplo é caracterizado por um TME imunossupressor, rico em fibroblastos associados ao câncer (CAFs), que desempenham um papel crucial na progressão da doença. Estudos recentes utilizando modelos de mieloma múltiplo demonstraram que os CAFs não apenas inibem a atividade antitumoral das células CAR-T, mas também promovem a progressão do Mieloma Múltiplo.
Os CAFs expressam moléculas como a proteína de ativação de fibroblastos e a molécula de sinalização de ativação de linfócitos da família 7, tornando-se alvos atraentes para a imunoterapia. Para contornar a inibição das células CAR-T induzida pelos CAFs, os pesquisadores desenvolveram células CAR-T com duplo direcionamento, visando tanto as células do mieloma múltiplo quanto os CAFs. Esta abordagem inovadora melhorou significativamente a função das células CAR-T, representando uma nova estratégia para superar a resistência à terapia no mieloma múltiplo.
Aprovações Recentes do FDA: Idecabtagene Vicleucel e Ciltacabtagene Autoleucel
Dois avanços significativos marcaram o tratamento do mieloma múltiplo com a recente aprovação de duas terapias CAR-T pelo FDA. Essas aprovações não apenas expandem as opções terapêuticas, mas também oferecem novas esperanças para pacientes que enfrentam essa condição desafiadora.
Em 4 de abril, o FDA aprovou o Idecabtagene Vicleucel para o tratamento de pacientes adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, após duas ou mais linhas de terapia. Esta aprovação foi baseada nos resultados do estudo KarMMa-3, o único estudo de fase III a avaliar uma terapia de células CAR-T em uma população composta exclusivamente por pacientes com mieloma múltiplo recidivado e refratário.
O estudo incluiu 386 pacientes, comparando a eficácia e segurança do Idecabtagene Vicleucel com o tratamento padrão. Os resultados mostraram que o Idecabtagene Vicleucel foi superior em termos de sobrevida livre de progressão, com uma redução de 51% no risco de progressão ou morte. Além disso, a taxa de resposta foi significativamente maior, com 71% dos pacientes respondendo ao tratamento, em comparação com 42% no grupo controle.
No dia seguinte, 5 de abril, o FDA aprovou o Ciltacabtagene Autoleucel para pacientes que falharam em pelo menos uma linha de tratamento prévio, incluindo um inibidor de proteassoma e um agente imunomodulador, e que são refratários à lenalidomida. Esta terapia é a primeira a ser aprovada para o tratamento de segunda linha do mieloma múltiplo direcionada ao antígeno de maturação das células B (BCMA).
A aprovação do Ciltacabtagene Autoleucel foi baseada no estudo CARTITUDE-4, que randomizou 419 pacientes entre o tratamento com Ciltacabtagene Autoleucel e o tratamento padrão. Após um seguimento mediano de 15,9 meses, o tratamento com Ciltacabtagene Autoleucel demonstrou uma redução de 59% no risco de progressão da doença ou morte, com uma taxa de resposta superior a 84,6%.
Esperança e mais qualidade de vida para os pacientes
As terapias CAR-T oferecem novas esperanças para pacientes que enfrentam a resistência aos tratamentos tradicionais. À medida que a pesquisa avança, estratégias inovadoras, como o duplo direcionamento das células CAR-T, prometem melhorar ainda mais os resultados para pacientes com mieloma múltiplo, proporcionando remissões mais duradouras e melhor qualidade de vida.